quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sobre shampoos, piolhos e cabelos


Maldito espelho! Por que ele teima em refletir a imagem dos opacos, quebradiços e volumosos cabelos? Sim, eu odeio meus cabelos, eles eram melhores antes da puberdade.

Já dizia sabiamente Casimiro de Abreu : Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da infância querida que os anos não trazem mais” .

Álbuns familiares recordam uma parte remota de mim que sempre ressoa em alto e bom som “Ah como eu era feliz e não sabia”. Os cabelos curtos (lisos, brilhosos, sem volume e sem pontas duplas) da menina do interior revelavam a leveza e a ousadia de não se esperar nada do futuro. Naquela época, os piolhos eram os melhores amigos da minha mente.

A euforizante sensação de cócegas no couro cabeludo era revitalizante, o único empecilho para a continuação desta mágica experiência era o Deltacide, assassino dos pobres e indefesos animaizinhos capilares.

Com a evolução temporal, meus cabelos se expandiram, troquei o Deltacid (e os piolhos) por uma infinidade irrestrita de cosméticos que prometem milagrosamente o fim da rebeldia dos meus fios.

O que outrora dividia-se em shampoos para cabelos normais, secos e oleosos, cresceu monstruosamente à esfera de prateleiras de cosméticos destinados a todos os tipos existentes (ou não) de madeixas.

Meus cabelos cresceram, troquei a afável companhia dos piolhos pela de um teclado de computador que talvez definirá de forma trágica meu futuro.

Já chega, vou ali pegar uns piolhos e comprar um Deltacid.

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